LICENÇA MADE IN USA PARA ELEVAR CARGAS

No Brasil, os motoristas precisam de uma licença específica para dirigir carros. Se quiserem andar de moto, a habilitação é outra. Dirigir caminhões é ainda mais difícil, os motoristas passam por mais etapas e precisam de uma carteira ainda mais especializada. Porém, quando um brasileiro deseja operar guindastes, ele não precisa de habilitação ou algum tipo de autorização. Não há requisitos necessários para operadores e esse é um fator que gera preocupação, pois há cargas com várias toneladas, o que significa que um acidente pode representar um tremendo desastre.

Em 2009, o Brasil era um dos países com maior número de acidentes no setor de construção civil em todo o mundo. Somente no estado de São Paulo, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP) apurou que nove pessoas morreram até julho do ano passado. Em todo o ano de 2010, houve seis mortos. No início de 2011, o Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo apresentou o dado de que a cada cinco pacientes tratados, um deles trabalhava na construção civil.

O HC estima que, em todo o tratamento de um trabalhador desse setor que se fere gravemente, cerca de R$ 68 mil são investidos em sua recuperação. Desde o começo de 2012, os membros da Federação Internacional de Plataformas Aéreas (IPAF) precisam apresentar e reportar seus acidentes para a formulação de um relatório que contabilizará as mortes e ferimentos envolvendo plataformas.

Criada em janeiro de 1995 sem fins lucrativos, a empresa surgiu para diminuir o número de acidentes nos Estados Unidos e desenvolver padrões de desempenho eficazes para a operação segura de guindastes. “Até 1995, os EUA viviam uma situação similar ao Brasil de hoje, onde há muitos guindastes, muitas construções e, consequentemente, acidentes.

A indústria viu que era hora de fazer algo para aquilo acabar”, afirma Graham Brent, diretor executivo da NCCCO. A segurança é o objetivo prioritário da empresa, mas sua proatividade foi um fator fundamental. O Governo norte-americano não tem nenhum envolvimento com a organização, apesar de que a OSHA, órgão federal de Segurança Operacional e Administração de Saúde, aprova o exame.

A empresa se antecipou ao governo, vendo a necessidade da indústria. “O governo provavelmente não teria conhecimento e expertise suficiente para elaborar um programa adequado aos operadores”, completa Brent.

Locadoras, construtoras e outras empresas do ramo dos Estados Unidos se uniram e alavancaram a companhia, vendo essa necessidade existente na indústria. Em 1996, 800 operadores foram testados. E com o passar dos anos, a NCCCO foi se tornando mais e mais importante. “No começo, fazíamos testes somente para operadores de guindastes móveis. Hoje, temos 20 certificações para nove diferentes tipos de guindastes, como os articulados, com lança treliçada, sobre esteiras, gruas, entre outros”, comemora Brent.

Além disso, graças à grande diminuição de acidentes de operadores, houve outra mudança. “Se você não tem operadores certificados pela NCCCO, você pode ter que pagar mais pelo seguro. O certificado oferece um desconto, pois o operador representa um risco menor”. Comparando os anos de 2002 a 2005 com 2005 a 2008, houve uma queda de 80% de acidentes fatais e de 57% de acidentes sem mortes no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, onde a empresa tem forte atuação recente. “Por causa de nossos números, já recebemos convites de empresas da China, Índia, Turquia e de Omã. Há um interesse mundial”, revela Brent.

NCCCO no Brasil

A organização certificou, em julho de 2011, o primeiro grupo de operadores brasileiros, pertencentes à Guindastec. No total, foram 13 operadores que realizaram os testes escrito e prático e que possuíam experiência variada. Alguns deles tinham 15 anos de trabalho, outros, três meses. O exame teórico precisou passar por um processo de tradução e teve inclusive a ajuda de Nilson Rocha, diretor da Guindastec. “No geral, o grupo foi muito bem. Eles consideraram um exame complicado, mas muito eficiente. Tiveram mais dificuldade em calcular os pesos das cargas no exame teórico. No prático, estavam nervosos, mas foram ótimos.

No fim das contas, se você é um bom operador aqui, você é um bom operador em qualquer lugar”, afirma Oliva. A tradução acabou representando certo problema. Os operadores tiveram dificuldades com alguns trechos, mas quando Rocha leu essas passagens em voz alta durante a prova, eles entenderam.

A NCCCO espera certificar um novo grupo brasileiro ainda em 2012, com cerca de 30 operadores. Para isso, além da Guindastec, já estão em contato com outras empresas, como Locar, Makro Engenharia e Tomé. “São grandes companhias, que já possuem estabilidade e segurança aqui. Está acontecendo exatamente o mesmo processo que nos Estados Unidos, onde as melhores empresas viram a necessidade de diminuir os riscos e se prevenir. Logo depois, empresas menores resolveram seguir os seus passos”, ressalta Oliva.

Os novos testes e o relacionamento com as empresas estão sendo desenvolvidos junto ao Sindipesa e à Sobratema. Aliás, foi João Batista Dominici, vice-presidente executivo do Sindipesa, quem solicitou o retorno da CCO ao Brasil neste ano. Outra semelhança com o país norte-americano é a ideia da empresa de trazer para o Brasil, no período inicial, somente a certificação para guindastes móveis. Aos poucos, certificações para outros tipos de equipamentos viriam.

Deixar de treinar e certificar seus operadores pode acabar custando muito caro para uma empresa e até para a sociedade. Mais do que multas a serem pagas pelas companhias, os acidentes podem custar vidas. É um caminho sem volta para uma ação muito simples, mas ainda pouco realizada no Brasil. Entretanto, esse é um processo que parece estar se invertendo. Nos últimos anos, a indústria tem mostrado preocupação com a segurança e a NCCCO já vê o País como o mercado global mais interessante, pelo grande potencial econômico e pelo alto número de obras sendo realizadas, em especial por causa da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, quando o mundo todo estará de olho no Brasil.

3 comentários em “LICENÇA MADE IN USA PARA ELEVAR CARGAS

  1. Olá Bom dia sou operador de Guindaste há 7anos e gostaria de obter essa certificação. Nccco.

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