Iniciamos na edição nº 74 da Revista Crane Brasil a seção Fórum RigSafe, para esclarecer as dúvidas mais comuns sobre içamentos de cargas. As perguntas devem encaminhadas ao e-mail rigsafe@cranebrasil.com.br e serão respondidas pela Equipe da Crane Brasil e por especialistas em materiais, operações e planos de içamento (Rigging) na edição seguinte da revista e, posteriormente, no website www.cranebrasil.com.br.
Cabe lembrar que serão consideradas somente questões gerais, conceituais, pois não há condições, evidentemente, de resolver à distância, e sem todos os detalhes que fazem de cada içamento um evento único, problemas específicos, envolvendo operações ou planos de rigging em fase de desenvolvimento. Nesse caso, os especialistas devem ser consultados individualmente e, eventualmente, serem contratados para uma consultoria mais abrangente.
SEIS EQUÍVOCOS COMUNS SOBRE FRAGILIZAÇÃO POR HIDROGÊNIO
Os efeitos do dano ao hidrogênio no aço é uma consideração crítica para o serviço offshore. É vital que a indústria continue avançando na conscientização em relação a esse tema para permitir práticas seguras de aparelhamento (rigging), içamento e amarração. Um artigo elaborado pelo departamento da Crosby, fornecedor global de produtos para içamentos, mostra que ainda há muitos equívocos que precisam ser esclarecidos. Os mais comuns são os seguintes:
- Os acessórios de grau 8 são sempre seguros para aplicações offshore.
- Não há acessórios de grau 10 adequados para aplicações offshore.
- O hidrogênio só pode entrar no aço enquanto estiver em uso.
- A aprovação de Tipo DNV é a mesma da ISO.
- Todos os produtos aprovados para uso offshore são fabricados internamente pelo fornecedor.
- Todos os produtos galvanizados imersão a quente (HDG) são um risco devido a fragilização por de hidrogênio
Os especialistas da Crosby mostram os equívocos desses argumentos e quais os conceitos corretos que devem ser levados em conta em cada um dos casos. Uma possível síntese seria a seguinte:
- Muitos produtos grau 8 não são adequados para uso offshore. Existem acessórios grau 10 para essas aplicações e podem ser a melhor solução
- Existem 3 maneiras principais de o hidrogênio entrar no aço. Não somente durante o uso (o que pode ser evitado pelo uso de um revestimento), mas também na fabricação e no processo de produção (durante a soldagem, por exemplo).
- No caso da certificação, é preciso lembrar que a ISO não certifica o produto em si; enquanto a DNV estabelece os requisitos que o produto deve ter para uso seguro em aplicações severas.
- Já o problema da fragilização durante a galvanização só irá ocorrer se for utilizado ácido na etapa de limpeza.
O artigo na íntegra está disponível na íntegra no website da Crane Brasil (https://bit.ly/3oIZlDf)
PLANTÃO DE DÚVIDAS
Questão 1 O Rigging Plan deve ser elaborado, por sua complexidade, peso, dimenções, obstáculos e interferências. Mesmo que seja para um guindaste articulado tipo munck?
(Camilo Filho¹) A meu ver, o Plano de Rigging deve ser elaborado, tendo em mente a criticidade da operação, independentemente se é um guindauto ou um guindaste de 500 t. Uma válvula pesando 300kg, sendo içada por um guindauto dentro de uma refinaria, sobre linhas vivas (vapor supersaturado, benzeno, gasolina e etc.), é, inegavelmente, um trabalho de risco acrescido. Essa criticidade pode ser determinada também pela dificuldade em se conseguir uma peça nova, para reposição, caso haja um acidente. Também vale ressaltar que em trabalhos próximos de redes energizadas, é premente que se faça o estudo de Rigging.
Questão 2 Existe um grande problema dos materias forjados, que é a falta de informações no corpo dos acessórios
(André Carrion²) Por isso, é importante conhecer o fabricante de seus acessórios de içamento. Nem todo acessório é igual. Fabricantes reconhecidos tem a preocupação de sempre marcar as informações necessárias, de forma indelével, nos seus materiais. Salvo algumas excessões, como anéis e ganchos de carga, por exemplo. Nem todas as normas de fabricação de acessórios tem como requisito a marcação no acessório da C.M.T/W.L.L ( Carga Máxima de Trabalho/ Working Load Limit), isso porque os acessórios são utlizados para montagem de lingas e a CMT é do sistema e não somente do componente. Como exemplo, podemos citar anéis de carga ( NBR 16798/EN1677) e Ganchos de Carga ( EN 1677).
Questão 3 Onde é permitido o içamento de pessoas com guindastes on shore e off shore e qual literatura pode ser utilizada como base ou seja subsidiar/sustentar o projeto para este tipo de içamento crítico?
(Leonardo Roncetti³) O içamento de pessoas com guindaste offshore é previsto somente para o transbordo de pessoas entre embarcações e plataformas, contemplado nas principais normas offshore, como a brasileira NR-37, a europeia EN 13852-1, a estadonidense API 2C e a norueguesa NORSOK R-002 e R-003.Em todos os casos, os guindastes devem ser certificados para este fim.
Questão 4 Gostaria de saber se é desaconselhável a utilização de guindastes telescópicos para içamentos offshore?
(Camilo Filho¹) Nos trabalhos offshore, normalmente as máquinas são apoiadas no convés, e temos muitas forças atuando no guindaste, a carga dinâmica é muito alta. A lança do guindaste é submetida a uma carga lateral violenta, para qual a lança telescópica não foi projetada. Os componentes estruturais da lança, sistema de giro e etc., são muito solicitados. As máquinas telescópicas que trabalham patoladas, tem como premissa que, na operação, estarão niveladas com um máximo de + ou – 1%. Ora, isso representa 0,57°. Sua tabela de carga é baseada neste nivelamento. Assim são projetados seus componentes principais, lança e sistema de giro. Imaginemos agora que essa máquina será submetida às acelerações encontradas em mar aberto? Pelos motivos acima, a resposta é sim. É desaconselhavel usar máquinas telescópicas sobre patola para trabalhos offshore. Quando muito, podem ser usadas em águas abrigadas.
Questão 5 Seguindo a nossa legislação, os itens presentes nas normas internacionais podem ser cobrados mesmo que não existam nos procedimentos internos das empresas?
(André Carrion²) As NRs não nos obrigam a cumprir normas internacionais para içamento de cargas. Cabe cada empresa definir seu critério de qualidade e conformidade. As normas estabelecem os requistos mínimos. Porém, mais do que atender as normas, precisamos olhar o objetivo maior delas, que seria elevar a segurança das atividades, aumentando a proteção dos trabalhadores envolvidos direta e indiretamente com a atividade, dos equipamentos e da carga. Portanto, buscar complementações em normas internacionais reconhecidas são boas práticas que ajudam a elevar a segurança, reduzindo os riscos da atividade.
Questão 6 A carga , quando chega à “splash zone”, transmite qual força para o guindaste?
(Leonardo Roncetti³) A splash zone é a região de transição do ar para água, no içamento submarino, onde a carga fica diretamente em contato com as ondas. É a situação que conduz às maiores forças, compostas por arrasto, massa adicionada, impacto direto das ondas, sucção, peso da carga e forças devido ao movimento do guindaste. O valor total pode chegar a 5 veses o valor da carga estática.
Consultoria:
(¹) Camilo Filho é engenheiro mecânico, especialista em içamentos pesados, com 38 anos de experiência em operações com guindastes e movimentação de carga. Com vários cursos na área feitos no exterior, é responsável por vários trabalhos de grande envergadura no Brasil e no exterior. Atualmente é consultor da IPS – Engenharia de Rigging, é também membro da ACRP (Association of Crane & Rigging Professionals-USA).
(²) André Carrion, diretor do Grupo Crosby no Brasil e mais de 10 anos de experiência no mercado de materiais de içamento, é engenheiro de materiais com especialização em marketing e administração de empresas
(³) Leonardo Roncetti, engenheiro, é doutorando em içamento offshore pela COPPE-UFRJ, mestre em estruturas offshore pela COPPE-UFRJ, e diretor da TechCon Engenharia e Consultoria.